O ambiente de negócios mudou para melhor desde o Plano Real. Mas, agora, exige muito mais de quem tem a missão de tocar uma empresa Por Judas Tadeu Grassi Mendes* O ambiente dos negócios mudou radicalmente no Brasil, a partir do Plano Real, em 1994. Até então, a inflação distorcia o ambiente de decisão dos empresários, que simplesmente repassavam seus custos e margens para os preços. A partir dos anos 1990, porém, quatro processos tiveram início na economia brasileira. Por causa deles, o ambiente dos negócios mudou. O primeiro foi a globalização. Preocupadas em reduzir seus custos, as empresas começaram a procurar fontes de suprimentos e ambientes mais favoráveis para produzir. Entretanto, as pequenas empresas – as do tipo familiar – tiveram dificuldades para aproveitar os benefícios desse processo. O segundo foi a abertura da economia, que se tornou efetiva em dezembro de 1994, quando o governo baixou os impostos sobre carros para apenas 20%. A abertura foi fundamental para sustentar o Plano Real – pois incentivou a entrada tanto de produtos prontos para consumo quanto de máquinas, equipamentos e tecnologia que contribuíram para aumentar a competitividade das empresas brasileiras. Outro processo transformador foi a estabilização da economia. Manter a inflação brasileira em níveis civilizados, bem abaixo de 10% ao ano, permitiu que os empresários mudassem sua maneira de gerir negócios. Os custos de produção passaram a ser cada vez mais importantes – já que não havia mais espaço para repassar custos aos preços finais. Finalmente, o consumidor brasileiro amadureceu. A partir de 1991, com o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro, ele teve seus direitos ampliados. Consequentemente, as empresas se viram diante da necessidade de melhorar a qualidade de bens e serviços – até porque os consumidores começaram a reclamar e exigir mais. Esses quatro processos, em conjunto, provocaram substanciais mudanças nos negócios. O resultado é que ficou mais difícil ser empresário e empreendedor no Brasil. O setor privado teve de mudar e muito (e para melhor) e essa mudança foi positiva para os consumidores brasileiros – que, hoje, têm muito mais produtos disponíveis em quantidade, qualidade e preços atraentes. A pedra no caminho Restou, porém, uma pedra no caminho dessa transformação: o setor público – que não só não mudou como se tornou ainda mais voraz na burocracia e na qualidade dos serviços que entrega à população. O nível educacional das escolas públicas de ensino básico é péssimo. Os impostos são absurdamente elevados (afinal, são 85 tipos de taxas diferentes que absorvem, juntas, mais de R$ 5 bilhões por dia). Os juros ainda são os mais elevados do mundo, embora tenha diminuído recentemente. E a infraestrutura é cara e ineficiente. De resto, o que esperar de um Estado que fica com 36% do PIB em tributos, mas investe apenas 1% em infraestrutura? São esses os desafios que os empresários familiares têm de encarar. Felizmente, há meios de resistir a esse ambiente inóspito. E eles passam por três tarefas básicas: apostar em inovação tecnológica para aumentar a produtividade; com maior produtividade, reduzir custos unitários de produção; com mais rentabilidade, melhorar a qualidade dos produtos. O ambiente é desafiador, especialmente para os pequenos empresários – que sofrem muito para acessar os recursos financeiros do BNDES, por exemplo. Mas também é de grandes oportunidades. A única verdade é que não há mais possibilidades para amadores e para gente que costumava ganhar dinheiro fácil com a inflação. As organizações familiares precisam ser profissionais e altamente competitivas. O governo dificulta muito? Mesmo assim, aposte no Brasil, pois as oportunidades são muitas.
* Diretor-presidente da Estação Business School (EBS), de Curitiba
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domingo, 2 de setembro de 2012
Ficou difícil ser empresário
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