Narra a tradição grega que Procusto era um meliante que assaltava os viajantes, e que nesse ofício submetia as suas vítimas a um sofrimento no mínimo curioso. Ao serem colocados em um leito, os que eram menores que a cama eram esticados por cabos para que ali coubessem perfeitamente. Os maiores tinham as partes excedentes de seus membros decepadas.
Apenas com a ação do herói ateniense Teseu cessou tamanha barbárie, quando o algoz se viu preso lateralmente em sua própria cama, tendo sua cabeça e pés cortados pela espada de Teseu, experimentando a sua própria loucura.
Apesar de bárbara, como os contos de fadas da Idade Média, traz grande aprendizado a lenda, principalmente nas reflexões sobre a gestão das tarefas na administração pública. Assim como o sanguinário Procusto, por vezes somos açodados pela "Neura da padronização", em uma tentativa desmedida de padronizar tudo e todos, sob a desculpa da beleza, da ordem ou da justiça, enredados em um patológico Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) na vertente administrativa.
Não avaliamos as metas, os custos, os resultados na nossa sanha de padronização. Quando nesse estágio, partimos em uma busca militar de olhar de forma enfileirada nossos funcionários, documentos, mesas e tudo mais que esteja ao alcance de nossos olhos, onde confundimos padronizar com qualidade, em qualquer caso ou situação. Abusamos do virtuosismo da burocracia, antevisto por Max Weber e esquecemos que padronizar tem um custo, às vezes não mensurável. Por vezes, apenas padronizar não resulta em melhores serviços prestados, mas na satisfação do personalismo puro e simples, oriundo do bom e velho patrimonialismo.
A origem dos processos padronizados na execução de tarefas na gestão perde-se nos tempos, mas o modelo taylorista-fordista os aplicou com maestria na racionalização do trabalho, na chamada Administração Científica, em um mundo de ebulição de processos industriais que exigiam repetição, padronização e divisão de tarefas, na construção de um modelo fabril que se fez e sempre se fará necessário, construindo o mundo assim como o conhecemos.
A padronização tem grandes virtudes, como a replicação de modelos de forma plural, o controle do padrão de qualidade dos procedimentos e dos produtos, a otimização e especialização dos envolvidos, entre outros. Mas, também traz em si perdas... É uma abordagem, que tem seu momento próprio de utilização.
Ao padronizar, inibimos as vantagens da diversidade e da pluralidade, sufocando a subjetividade imanente de cada indivíduo e a sua capacidade de pensar e criar soluções. Padronizamos na aparência e ocultamos as essências de nossas equipes, a sua capacidade de mostrar seus talentos, diferentes e úteis, em um mundo repleto de incertezas e de novidades. Caímos nas armadilhas de tornar a padronização um fim e não um meio.
Ao contrário do salteador Procusto, que buscava padronizar o mundo a base da força, temos que entender que o mundo é o igual, e ao mesmo tempo, o diferente. E isso se aplica à gestão. Temos estruturas que se repetem, mas temos peculiaridades de pessoa a pessoa. E tanto a padronização das estruturas quanto a peculiaridade dos sujeitos tem as suas vantagens, cabendo aos dirigentes, pela magia de sua atitude, saber explorar o potencial de cada uma delas diante dos desafios concretos, para que não sejam sacrificados na cama criada por si, pelo herói da realidade.
Fonte; administradores.com.br
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